2/3/2015

DIÁRIO CATARINENSE

Caminhoneiros – Menos bloqueios, mais diálogo
Depois de 12 dias de paralisações, conflitos e pouca conversa, semana inicia com menos barreiras no Estado e chances mais claras de interlocução entre manifestantes e governos estadual e federal
Após um fim de semana marcado pela diminuição dos bloqueios nas estradas de Santa Catarina, pelos comboios de caminhões escoltados pela Polícia Militar e uma carreata a Brasília, o movimento dos caminhoneiros entra em seu 13º dia com o primeiro encontro entre manifestantes e o governador Raimundo Colombo (PSD). O grupo de Concórdia pediu a audiência ao secretário de Agricultura Moacir Sopelsa (PMDB) na sexta-feira.
Ontem, em uma videoconferência articulada pelo Partido dos Trabalhadores de SC, caminhoneiros do Oeste conversaram com o ministro -chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Miguel Rossetto, e ouviram dele os compromissos do governo federal com a classe.
Para hoje, a expectativa é de que os manifestantes e governos estreitem os discursos em SC e em Brasília. Por aqui, a proposta do governador é de se colocar como intermediário junto ao Palácio do Planalto.
Em troca, o movimento seria mais maleável. Embora o grupo de caminhoneiros que se encontrará com Colombo seja todo de Concórdia, eles estão em contato com manifestantes de outros pontos do Estado. Deputados do PT também estão articulados para intermediar as negociações nas esferas nacional e estadual.
Liberação com comboios
Até as 21h de ontem, havia apenas sete rodovias federais bloqueadas no Estado. Todas as estradas estaduais foram liberadas. Para o governo do Estado, a redução das barreiras é considerada um reflexo das ações realizadas pelas forças de segurança nos pontos de interdição das rodovias nas últimas 24h e das operações de escolta a comboios de caminhões. De sexta-feira até ontem, pelo menos seis grupos de caminhoneiros foram escoltados em rodovias do Estado.
Nos dois primeiros dias, o governo divulgou os trajetos e o tipos de carga transportados. Somente no sábado foram acompanhados 47 caminhões com frango e suínos. Ontem, o gabinete de crise montado pelo governo informou que não divulgaria mais detalhes dos comboios.

Comboios ainda não garantem produção
Nos portos do Litoral Norte do Estado, a expectativa do final de semana era pela chegada dos comboios escoltados. Até as 21h de ontem nenhum caminhão havia chegado ao porto de Itajaí e manifestantes continuavam impedindo a entrada de caminhões no local. Em Navegantes, os acessos à Portonave foram liberados ontem após negociação com a Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Além do pedido da PRF, o caminhoneiro Alex Machado explicou que o grupo decidiu liberar os acessos à Portonave em função do baixo movimento no terminal. No entanto, os manifestantes planejavam retornar ao local na madrugada de hoje.
– Em Itajaí o protesto continua – enfatiza Machado.
Ontem, trechos da BR-470 em Indaial, Timbó e Pomerode foram interrompidos mais de uma vez por caminhões. Os bloqueios que ainda resistem no Estado deixam em alerta os frigoríficos. Mesmo com a liberação de comboios de pelo menos 76 caminhões que estavam bloqueados nas unidades frigoríficas do Oeste, a medida não deve ser suficiente para retomar o abate. A assessoria de imprensa da Aurora Alimentos, que parou o abate nas 10 unidades no Estado, informou que é difícil a volta dos trabalhos hoje. O diretor de agropecuária da JBS, José Ribas, avaliou que a medida libera espaço nos estoques, mas a retomada de abates, se ocorrer, será em pequeno volume:– Temos outras travas como falta de combustível e ração racionada. Se não tiver fluxo, não dá para retomar o abate.  O diretor-executivo da Associação Catarinense de Avicultura (Acav), Ricardo Gouvêa, disse que a liberação das cargas permite atender os SUPERMERCADOS , distribuidores e também alguns mercados externos.

Criciúma vive final de semana de tensão
Ataques a ônibus, incêndios, tiroteios e barricadas começaram na sexta-feira e se mantiveram durante os últimos dias; a suspeita é de que as ações sejam uma retaliação devido a morte de dois suspeitos durante troca de tiros com a Polícia Militar
No bairro Paraíso, em Criciúma, muitos sinais dos tiroteios e incêndios que aconteceram neste final de semana permanecem nas ruas. Principalmente cinzas e restos queimados no asfalto. A sensação, de modo geral, é de destruição. São as marcas de três dias de tensão na região, que está cercada pela polícia desde sexta-feira, quando tiveram início os ataques a ônibus.
Em coletiva realizada na tarde de ontem, as Polícias Militar e Civil fizeram uma avaliação das ocorrências dos últimos dias e demonstraram confiança na normalização da situação. Após dois ônibus queimados na sexta-feira, carros da prefeitura e casas incendiadas no sábado, a polícia prendeu quatro pessoas. Entre os presos está Leandro Marques de Castro, o Leandrinho, que já esteve associado em outros episódios.
No entanto, depois da entrevista, carros da polícia e da imprensa que estiveram no local também foram atingidos por tiros. O veículo do Jornal A Tribuna, de Criciúma, foi alvejado com pelo menos três disparos. Também estava no grupo um carro da RBS TV com uma repórter e um cinegrafista, além da repórter do Diário Catarinense. Não houve feridos, mas a tese de que a área já estaria tranquila foi derrubada.
Para minimizar a sequência de ataques, a polícia conta com uma ação conjunta de 78 policiais militares e 35 policiais civis. Eles estão equipados com 36 viaturas, além de receber suporte de um helicóptero. A PM atribui a onda de violência a uma retaliação por conta da morte de dois suspeitos em uma troca de tiros com a polícia na quinta-feira.
O bairro Paraíso, principal foco das ações, fica cerca de oito quilômetros distante do centro de Criciúma. Somando seu entorno, o bairro Tereza Cristina, Boa Vista e também pedaço final do Pinheirinho, abriga quase 10 mil pessoas. De acordo com a Polícia Militar, o número de ocorrências registradas no local é superior a maioria dos outros bairros da cidade.

VISOR

Sala de situação
A exemplo da Polícia Militar, a Polícia Civil agora também conta com uma sala de situação para que seja feito monitoramento online em momentos de crise como a da paralisação dos caminhoneiros. E por falar em situação, o clima esquentou de vez entre policiais civis e militares por conta das acusações entre um delegado e um tenente-coronel em Laguna.

MOACIR PEREIRA

Espaço Aberto
Tribunal Regional Federal de Porto Alegre suspendeu a penalidade aplicada pela infraero à construtora viseu, proibida de participar de novas licitações, com multa de R$ 9,5 milhões, pelos atrasos nas obras do Aeroporto Hercílio Luz. A viseu integrava o consórcio liderado pela espaço aberto, que continua unida. A ação que liberou a viseu foi impetrada pelo advogado Joel de Menezes Niebuhr.

Tortura
Advogado Ruy Espíndola revelou durante coletiva em Lages que “o empresário da Viaplan fez delação premiada sob tortura psicológica, ao lado do filho”. Contestou a informação de que houve desvio de R$ 3,5 milhões, que vai processar o autor dessas acusações e que não há provas materiais contra o prefeito de Lages, Elizeu Mattos (PMDB).

Ofensiva
A Diretoria do Sinte surpreendeu o governo estadual no último fim de semana com um bombardeio de propaganda em horário nobre para detonar a proposta do novo plano de carreira do magistério. Está convocando os professores para a assembleia estadual que será realizada amanhã, a partir das 14h, na Praça Tancredo Neves.

Contestação
O secretário Eduardo Deschamps emitiu nota refutando as críticas do Sinte na TV. Disse que o governo paga o piso salarial dos professores desde 2011, que o magistério teve reajustes entre 82% e 178% nos últimos quatro anos, que a MP dos ACTs objetiva descompactação da tabela salarial e que o Sinte não enviou qualquer contraproposta sobre o plano.

As ameaças
Veterinários da Cidasc estão unidos nas redes sociais contra projeto do governo estadual de cortar direitos conquistados há décadas. A principal ameaça é de supressão da gratificação por insalubridade dos que atuam no controle e na fiscalização de animais para manutenção da sanidade conquistada em certificação internacional.

CACAU MENEZES

Colombo 6.0
Consagrado nas urnas como deputado estadual, federal, prefeito em três mandatos, senador e governador, eleito no primeiro turno duas vezes, Raimundo Colombo completou 60 anos sábado. Me aguarde, Colombo, que eu também tô chegando. Agora, sem a preocupação com a reeleição, o governador está imprimindo um novo ritmo de trabalho no Estado. As cobranças por resultados são cada vez mais fortes.

COLUNA RAÚL SARTORI

Pensão vitalícia
O Plenário do Supremo Tribunal Federal retomará na sessão desta quarta-feira o julgamento de ação que questiona se ex-governadores podem continuar recebendo subsídios vitalícios correspondentes à remuneração do cargo de desembargador do Tribunal de Justiça. Tramitam no STF pelo menos outras nove ações direta de inconstitucionalidade sobre o mesmo tema, inclusive de SC, ajuizada em 2011, envolvendo nove ex-governadores.