DIÁRIO CATARINENSE
Na política, hora de luto e indefinição
Em plena maratona para conquistar a confiança dos brasileiros e tentar tornar-se o próximo presidente da República, Eduardo Campos, 49 anos, morreu na queda de um avião em Santos (SP), com outras seis pessoas
Oestivador Donizete Júnior chegou ao bairro Boqueirão às 10h de ontem, depois de uma jornada de trabalho no porto de Santos, e foi recebido em casa por um estrondo que estilhaçou as janelas. Percebeu, incrédulo, que um avião havia caído sobre um conjunto de sobrados da Rua Vahia de Abreu, na vizinhança. Enquanto avançava entre os escombros para ajudar no socorro das vítimas, sofreu um novo choque, ainda maior: descobriu que entre os mortos estava o seu candidato à presidência da República, Eduardo Campos.
– Não acreditei – contou Donizete.
Nos minutos que se seguiram, à medida que a notícia se propagava, abalando de forma profunda o panorama político nacional, a incredulidade do estivador espalhou-se entre os 200 milhões de brasileiros. Eduardo Campos, 49 anos completados no fim de semana, pai de cinco filhos, um deles ainda bebê, deixara a condição de possível futuro presidente do país – em 2015 ou mesmo em 2019, como apostavam alguns analistas – para tornar-se o primeiro candidato ao cargo a morrer em plena campanha.
Ao luto natural que segue qualquer desastre aéreo como o de ontem, que pôs fim a sete vidas e deixou pelo menos 12 feridos, juntou-se o peso de um fato histórico. Com a morte de Campos, não só as famílias e os amigos das vítimas sentirão as consequências, mas o Brasil inteiro. Ele era uma das peças centrais no tabuleiro eleitoral deste ano. Segundo a pesquisa mais recente do Ibope, tinha 9% das intenções de voto, atrás de Dilma Rousseff (38%) e de Aécio Neves (23%).
Ainda que não fosse favorito para chegar ao segundo turno ou vencer a eleição, sua morte provoca uma reviravolta no jogo, altera as relações de força e pode ter um papel importante na definição sobre quem governará o país no próximo mandato. O partido de Campos, o PSB, tem 10 dias para indicar um substituto. Marina Silva, a popular candidata a vice da chapa, é o foco principal das especulações.
O ex-ministro do governo Lula e ex-governador de Pernambuco morreu um dia depois de ter sua maior exposição diante do público brasileiro. Ele fôra ao Rio de Janeiro, na terça-feira, para dar uma entrevista ao vivo durante o Jornal Nacional, uma espécie de cartão de apresentação para o eleitorado.
Na sequência, participou do Jornal das Dez, da GloboNews. Estava com a esposa, Renata Campos. Ontem, chegou a ser anunciado que ela e o caçula do casal, Miguel, também viajavam na aeronave acidentada, mas mãe e filho haviam embarcado na véspera em um avião de carreira para o Recife.
Campos passou a noite em um hotel no posto 6, em Copacabana, e saiu com sua comitiva às 7h40min de ontem, em dois carros. Às 9h21min, levantou voo do Aeroporto Santos Dumont, na zona central do Rio. Além dele, estavam no Cessna 560XL, com capacidade para 12 passageiros, os pilotos Marcos Martins e Geraldo da Cunha, o fotógrafo Alexandre Severo Gomes da Silva, o cinegrafista Marcelo Lira e os assessores Carlos Augusto Ramos Leal Filho e Pedro Almeida Valadares Neto. Campos havia oferecido uma carona no jatinho a Marina Silva, que acompanhou sua ida ao Jornal Nacional, mas ela preferiu tomar um voo comercial até Guarulhos (SP), para gravar programas do horário eleitoral.
O destino do voo de Campos era o aeroporto de Guarujá (SP). O candidato iria a Santos, cidade vizinha, para conceder entrevistas e participar de um seminário. Por volta das 10h, o Cessna aproximou-se da pista para o pouso, mas arremeteu. Chovia fraco no momento da tentativa. Instantes depois, pilotos que estavam no aeroporto relataram ter visto uma turbina pegar fogo. A aeronave voou baixo por mais alguns quilômetros, sobrevoando o centro de Santos, passando de raspão por um prédio de oito andares e finalmente caindo, ao lado de uma academia de ginástica. Todos os ocupantes morreram.
– Pareceu que ele procurava a praia ou que tentou desviar de um prédio vizinho. Só sei que ele fez uma curva e desceu. Aí, explodiu – contou Flávio Capp, que mora nas imediações.
Tássio Ricardo Cardozo Silva, 25 anos, assistiu à queda pela janela:
– Eu trabalho a 300 metros e vi o avião caindo a uns 65 graus, de bico. Fiquei sem reação. Teve explosão e muita fumaça.
Morador da rua Vahia de Abreu, o aposentado Marcos Ferreira, 62 anos, disse ter tido a impressão de que o fogo saía de uma das turbinas.
– O avião passou no meio de dois prédios já caindo e pegando fogo. Na minha casa, que é do outro lado da rua, o impacto fez quebrar as janelas – afirmou.
A queda provocou correria e desmaios no Boqueirão. Espalhou-se o medo de explosões. Pelo menos 12 pessoas que estavam no solo foram atendidas em hospitais próximos, mas não há relato de casos graves.
Pouco depois, emissoras de TV começaram a transmitir ao vivo do local, mas a princípio não havia certeza de que Campos estivesse no voo. Com a constatação de que se tratava da aeronave usada por sua campanha e de que ninguém conseguia contatá-lo por telefone, parecia uma questão de tempo a confirmação da morte. A notícia oficial veio perto das 13h.
VISOR
Sem desespero
A Delegacia Geral da Polícia Civil resolveu contestar os números do Sindicato da categoria, o Sinpol, que fala em debandada da corporação. Planilha divulgada ontem mostra que desde 2010 foram registrados apenas 279 pedidos de aposentadoria. Em 2014, foram apenas 31. Bem diferente do que tem dito o sindicato, que fala em mil policiais prestes a se aposentar. A conferir..
CACAU MENEZES
Condecorado
Juiz federal Jairo Gilberto Schafer está retornando a Floripa com a mulher, Fabiola, onde ficaram quase cinco anos e onde o filho do casal nasceu. Dr. Jairo ficará lotado até o final do mês em Brasília e por seu trabalho com os ministros Gilmar Mendes e Felix Fischer foi condecorado segunda-feira com uma medalha no TST. Chega com moral.
COLUNA RAÚL SARTORI
Malversação
As suspeitas se confirmam, infelizmente: as fraudes na construção do Aeroporto Regional de Jaguaruna, entre 2008 e 2012, geraram um saque de R$ 2,9 milhões nos cofres públicos. Funcionou o mesmo esquema da famigerada “indústria” da ponte Hercílio Luiz, em Florianópolis: seguidos aditivos aos contratos para confecção de laudos, fiscalizações ou medições, quase tudo absolutamente dispensável, irregular ou faz-de-conta.
SITE OAB/SC
Tribunal atende OAB/SC e revoga ato que limitava inscrição de advogados para sustentação oral
Atendendo pedido da OAB/SC, o Grupo de Câmaras de Direito Público do Tribunal de Justiça revogou ato que limitava a inscrição de advogados para sustentação oral ao período das 8h às 8h30min.
Segundo o presidente da Seccional catarinense, Tullo Cavallazzi Filho, e o presidente da Comissão de Assuntos Judiciários, César Winckler, que estiveram pessoalmente na Sessão para formalizar o pedido, “a sustentação oral é uma prerrogativa da profissão, inclusive durante as sessões”. Cavallazzi elogiou o Grupo de Câmaras, que diante da reivindicação promoveu a revogação imediata da restrição.
Nova edição da Revista da OAB/SC começa a circular em todo o Estado
Começou a circular nesta semana a nova edição da Revista da OAB/SC. A reportagem de capa traz informações detalhadas sobre a 17ª Conferência Estadual dos Advogados, de 21 a 23 de setembro, em Brusque, além de entrevistas com alguns dos palestrantes. A revista é produzida pela equipe de comunicação da entidade.
Outros temas de interesse da advocacia podem ser lidos nesta edição: a polêmica das RPVs, a atuação das comissões de Prerrogativas e Assuntos Prisionais, os bastidores das negociações que culminaram com o pagamento da dívida que o Estado tinha com os defensores dativos e a aprovação do supersimples para a advocacia. A próxima edição já está sendo produzida e vai circular em novembro.
Edição on line disponível no site da OAB
CONSULTOR JURÍDICO
Cercado de expectativas, Lewandowski é eleito presidente do Supremo
Em votação simbólica, o Plenário do Supremo Tribunal Federal elegeu, nesta quarta-feira (13/8), o ministro Ricardo Lewandowski (foto) para a Presidência da corte durante os próximos dois anos. Lewandowski já ocupava o cargo interinamente desde o começo de agosto, devido à aposentadoria do ministro Joaquim Barbosa. A ministra Cármen Lúcia ocupará a Vice-Presidência.
Em rápido discurso, o novo presidente comprometeu-se a “honrar as tradições mais que seculares do STF e também a cumprir a consagrada liturgia desta casa de Justiça”. Nascido no Rio de Janeiro, Lewandowski tem 66 anos e foi nomeado para o STF pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006.
Já a ministra Cármen Lúcia (foto) prometeu ocupar o cargo de forma “mineira”: “a mais invísivel que puder”, brincou.
A posse teve tom de renovação da postura na corte. Em seus discursos, tanto o presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, Marcus Vinícius Furtado Coêlho, quanto o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, destacaram o diálogo dos órgãos com o Supremo como principal expectativa para a nova gestão.
Dentro do próprio Supremo, o clima foi o mesmo devido à volta da interlocução. O ministro Luís Roberto Barroso, logo após a sessão solene e durante a sessão de julgamento desta quarta, se apressou a sugerir mudanças no procedimento de publicação de acórdãos da corte, que, segundo ele, chegam a demorar oito meses. “Como o presidente está repensando muitas coisas…”, justificou.
A mudança na gestão do Supremo foi bem recebida por magistrados, advogados e Ministério Público. A notícia da aposentadoria de Joaquim Barbosa, em maio, foi recebida com alívio e indiferença por advogados e por juízes, que não lamentaram a decisão. “A magistratura não sentirá saudades de Joaquim Barbosa”, disse o então presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), Nino Toldo. A expectativa das entidades de magistrados é que agora volte a existir uma relação entre as associações e o chefe do Poder Judiciário, o que não aconteceu na gestão de Joaquim Barbosa.