Polícia registra nova denúncia de assédio sexual contra professor da Udesc
Alunas dizem que atos ocorreram durante sessões de orientação pedagógica particular; defesa nega as acusações.
A Delegacia da Mulher de Florianópolis registrou, nesta quarta-feira (28), novo caso de aluna que diz ter sido assediada sexualmente por um professor de história da Udesc (Universidade Estadual de Santa Catarina). Pelo menos oito mulheres já denunciaram o docente, que nega as acusações. Um dos casos, que é tratado como estupro, teria ocorrido em Palhoça, e é investigado naquele município. Os demais teriam ocorrido nas dependências do Centro de Ciências Humanas e da Educação, a Faed, no Centro da Capital. A defesa nega as acusações.
Os casos vieram à tona depois que uma das alunas relatou ter sido estuprada pelo professor, o que motivou outras alunas a contarem casos semelhantes de assédio sexual vividos na sala de orientação pedagógica, onde ficavam sozinhas com o professor. No dia 8 de março (Dia Internacional da Mulher), a denúncia foi apresentada pelo Centro Acadêmico à direção-geral da Faed, que por sua vez encaminhou para a Ouvidoria da Udesc.
“Na sequência desse fato as alunas começaram a conversar entre si e perceberam que várias delas tinham sofrido algum tipo de assédio. Como isso ocorria durante as sessões de orientação pedagógica, quando estavam sozinhas com o professor, elas achavam que era algo pessoal, que não ocorria com as demais”, disse a advogada Isadora Tavares, que defende seis das oito mulheres que denunciaram o professor. Segundo os relatos das vítimas, o professor se aproveitava do momento de orientação e passava as mãos no corpo das alunas e tocava as partes íntimas.
Os abusos vinham ocorrendo desde o ano passado, diz a defesa das alunas. “O que elas perceberam é que ele tinha um modus operandi e através das conversas decidiram fazer as denúncias”, contou Isadora.
O caso foi noticiado com exclusividade nesta quarta-feira (28) pela RICTV e tem gerado repercussão, principalmente na universidade. No campus sede, no Itacorubi, uma faixa foi fixada no portão de entrada com os dizeres “Não são só boatos, estuprador também é professor”.
Professor será o último a ser ouvido
O delegado Paulo de Deus, da 6ª DP da Capital, que investiga sete dos oito casos, diz que os depoimentos das vítimas são contundentes e que os indícios são fortes. “Já ouvimos todas as vítimas e falta apenas uma testemunha para ser ouvida. Logo após faremos o interrogatório do professor, que será o último a ser ouvido, pois também é muito importante saber o que ele tem a dizer para confrontarmos as versões”, disse.
Seis casos são investigados em um único inquérito. O outro caso, registrado na tarde desta quarta-feira (28), poderá ser apensado ao mesmo inquérito. “Ainda estamos avaliando se vamos apartar essa nova denúncia no inquérito ou se será investigada separadamente”, informou o delegado.
A Udesc emitiu nota informando que uma sindicância interna foi aberta pela PGE (Procuradoria-Geral do Estado) e que o futuro do professor na universidade será definido após a conclusão da investigação. O professor pediu afastamento médico por 30 dias.
Aluna relata estupro em Palhoça
O caso mais grave teria ocorrido em Palhoça, fora da universidade, quando uma das alunas disse ter sido estuprada pelo professor após eles saírem para jantar. Como tinham bebido além da conta, o professor ofereceu a casa dele para ela passar a noite. “Ela conhece a família do professor. Existia uma relação de confiança e esperava-se que não houvesse qualquer constrangimento, por isso ela aceitou ir”, informou a advogada Daniela Félix, que defende a aluna. No entanto, no desenrolar dos acontecimentos, o professor teria se aproveitado da situação de vulnerabilidade para manter relação sexual com a aluna. A defesa aponta que não havia nenhuma intenção da jovem em manter relações íntimas com o professor, e que o ato foi praticado sem o consentimento dela.
O advogado Hédio Silva Júnior, que defende o professor, afirmou que nesse caso o professor de fato manteve relação com a aluna, mas a versão dele é outra, a de que foi uma relação consensual. “Não houve qualquer constrangimento, eles passaram a noite juntos e tomaram cerveja”, disse o defensor.
Nos demais casos, a defesa ainda está se informando do conteúdo das acusações, mas antecipa que o professor se declara inocente. “Ainda estamos apurando, mas pelo que tenho visto os argumentos são frágeis e no fim provaremos a inocência do professor”, disse Hédio Silva Júnior.
Se comprovadas as denúncias de assédio o professor pode ser condenado a pena de um a dois anos de detenção. Já no caso de estupro, a pena pode chegar a 12 anos.