Diário Catarinense (22/2/2016)

O grito de independência de Colombo
Upiara Boschi
Que nunca se espere grandes gestos de rompimento por parte de Raimundo Colombo. O governador catarinense é cauteloso, conciliador e paciente. Costuma tentar deixar os problemas se solucionarem sozinhos, o que nem sempre acontece. Com esse estilo de fazer política, o pessedista construiu uma carreira política em que conseguiu agrupar políticos, partidos e interesses diversos em torno de seu projeto.
É justamente por esse estilo, que é preciso olhar com atenção a disposição de Colombo de patrocinar uma ação judicial no Supremo Tribunal Federal (STF) em que o Estado de Santa Catarina questiona os critérios utilizados pelo Ministério da Fazenda para aplicar a lei que determinou a renegociação da dívida com a União. Mais do que a tentativa de corrigir uma interpretação marota do Ministério da Fazenda, que aplica juros sobre juros ao recálculo da dívida e torna inócua a renegociação aprovada pelo Congresso em 2014 para beneficiar Estados e municípios, a disputa judicial coloca o catarinense em uma nova posição do tabuleiro político: a de liderar uma disputa nacional contra o governo da presidente Dilma Rousseff (PT). Se a chamada Tese de Santa Catarina prosperar no STF, os demais devedores vão exigir o mesmo cálculo.
Em plano estadual, Colombo sofre no dia a dia os efeitos negativos da lealdade que mantém em relação à petista. Na campanha eleitoral, declarou o apoio àquela que lhe viabilizou o mandato através de financiamentos via Banco do Brasil e BNDES. Sabia que a declaração de voto em Dilma Rousseff no Estado de Santa Catarina, talvez hoje o mais antipetista do país, talvez lhe custasse a reeleição caso tivesse que enfrentar um segundo turno.
Mesmo diante do derretimento da popularidade de Dilma e das dificuldades do governo e do país em 2015, Colombo manteve-se leal e chegou a assinar no final do ano um manifesto de governadores aliados ao Planalto contra o impeachment. Ainda acreditava que a petista pudesse retomar o controle da situação. Foi na troca de Joaquim Levy por Nelson Barbosa na Fazenda que o catarinense jogou a toalha, ao entender a mudança como uma sinalização de fechamento do governo federal em si mesmo.
Foi nesse contexto, no final de dezembro, que o decreto da dívida foi editado confirmando o pior cenário possível: a dívida aumenta em vez de reduzir nas calculadoras de Barbosa. Engendrada na Fazenda catarinense, sustentada pela Procuradoria Geral do Estado, ratificada por um parecer do jurista Carlos Ayres Britto, acompanhada de perto por todos os devedores da União, a Tese de Santa Catarina é o grito de independência de Colombo.